The Toronto Star, Outubro 7, 2001

Um Afeganistão pós-Taliban precisa dar atenção às mulheres

Michele Landsberg
COLUNISTA


As mulheres afegãs estão com medo. Na semana que se segue, a guerra será lançada contra os terroristas que deixaram todo o país como o seu refém.

"Há uma atmosfera sufocante de medo", diz Tahmeena, que pertence a RAWA, Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão, ela falou pelo telefone de Nova York, onde ela acaba de chegar dos campos de refugiados no Paquistão. "As fronteiras com o Irã e com o Paquistão foram fechadas, mas muitos afegãos estão atravessando ilegalmente as fronteiras por caminhos nas montanhas".

Já, no último inverno, os 2 milhões de refugiados que estavam acotovelados nos campos na fronteira com o Paquistão, estavam passando frio, fome e comendo grama, estavam completamente abandonados pelos grandes orgãos, exceto pela "Alta Comissão de Refugiados das Nações Unidas". No último inverno, os oficiais disseram que novos refugiados que vieram do norte do Afeganistão estavam em condições piores: A mortalidade por mês entre as crianças abaixo de 5 anos, era de 150 para cada 10.000 crianças.

Agora, depois de um verão caloroso e seco e as escaladas das tensões, essas multidões estão passando fome e estão deixando o estado cada vez mais miserável.

Com a ameaça de guerra, a miséria está empilhada sob miséria.

Mas ainda a mais para ter medo.

"Nós estamos aterrorizadas, se a coalizão ocidental colocar a Aliança do Norte no poder", diz Tahmeena. "Estas são pessoas que já controlaram o Afeganistão uma vez e eles também são terroristas assim como Osama Bin Laden e o Taliban".

"Foi este grupo fundamentalista que uma vez esmagou a capital, Kabul, para roubar; 90 mil pessoas foram mortas ou por apedrejamento ou metralhadas, eles saquearam tudo, queimaram as bibliotecas e assim como o Taliban, o primeiro alvo foram as mulheres. Eles cometeram crimes como rapto, estupro e forçaram casamentos, se as famílias se recusassem a dar a filha em casamento para uma comandante Jehadi, seu pai seria morto. Algumas vezes as filhas preferiam cometer suicídio; algumas vezes os pais matavam suas filhas para não entregá-las."

Por 20 anos, as mulheres da RAWA tem resistido, primeiramente pela invasão dos soviéticos, depois os Jehadi e então o Taliban. Por décadas, seu país foi palco de batalhas da guerra fria entre superpotências, estas batalhas deixaram o país a mercê da impiedade.

A RAWA opera secretamente dentro do Afeganistão, gerenciando unidades móveis de saúde, trabalhos para as miseráveis mulheres e escolas clandestinas para meninas. Detrás de seus burkas, elas tem sido convocadas para uma coragem inconcebível para fotografar execuções públicas feitas semanalmente pelo Taliban.

Todo o tempo as mulheres da RAWA, estão correndo risco de vida se forem pegas. Elas são igualmente tratadas por elementos fanáticos no Paquistão.

Nos campos de refugiados, mil membros da RAWA se esforçam para entregar comida e cobertores, abrem clínicas e escolas, dão cursos de enfermagem e literatura. Na última semana a Unesco divulgou que somente 22% as mulheres afegãs são alfabetizadas.

Alguém poderia achar que a RAWA, o mais valente grupo de resistência contra o Taliban, deveria ser bastante vociferante para derrubar e entregar os seus opressores nas mãos dos Estados Unidos e de seus aliados.

"Não, não, nós não queremos que o Taliban seja derrubado a força", exclamou Tahmeena, "Não queremos mais guerra! Somente o povo é que é a vítima. O caminho para a paz seria parar de ajudar os fundamentalistas. Você sabe que o Jehadi (Aliança do Norte) está conseguindo dinheiro e armas do Irã, Índia, Iraque, Rússia e França".

A RAWA já viu tudo isso antes. A última coisa que eles querem é colocar um outro grupo primitivo de fundamentalistas no poder por intrusos.

O sonho da RAWA é que ambos os lados sejam forçados, através de sanções econômicas, a serem desarmados, pelo ponto de vista da ONU serão enviados pacificadores para supervisionar as eleições, assim como aconteceu no Timor Leste.

Sally Armstrong, uma jornalista canadense que esteve recentemente no Afeganistão e no Paquistão, escreveu um excelente artigo sobre a condição das mulheres.

"Tudo o que acontece, nos lembramos que desde 1996, somente as mulheres tem falado contra o Taliban, tentando desesperadamente mostrar ao mundo sobre estes terroristas. Ninguém ouviu exceto outras mulheres. Agora que o Taliban precisa ser derrubado e que muitos grupos afegãos estão esperando uma coalizão de partidos apoiados pelo rei; precisa haver sim mulheres na mesa de negociações".

Não foi a muito tempo que o Conselho de Segurança da ONU insistiu nas negociações de paz e que as mulheres destes países deveriam ser participantes. Burundi e República Democrática do Congo, tem sido de fato, o primeiro implemento para esta medida.

"Se as mulheres não estiverem na mesa de negociações", insistiu Armstrong, "O Afeganistão permanecerá como um estado marginalizado".

Misóginos adoram zombar sobre a possibilidade que as mulheres possam trazer diferentes perspectivas de paz. Nós tínhamos encorajado as vozes da mulheres afegãs, entretanto, e não rejeitando-as como marginais, os Estados Unidos criaram uma "Terrorcracia" afegã que não poderia ser mantida.

Longe de qualquer processo de paz, os membros da RAWA continuam o seu trabalho perigoso nos tristes campos de refugiados. Felizmente os americanos e seus aliados estão prevendo uma investida contra a situação destes refugiados nas semanas seguintes, estão providenciando um baluarte de dinheiro afim de alimentá-los e defendê-los.

Quando vier o tempo de reconstrução do Afeganistão, nós não perderemos nenhum sinal da incrível bravura das mulheres que lutaram contra o Taliban antes, durante e depois.

De: http://www.t-o.com



Feministas em segredo lutam contra a tirania do Taliban
The Toronto Star, Junho 16, 2001

Mulheres afegãs lutam para serem ouvidas
The Toronto Star, Setembro 18, 2001



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