Reuters, 3 de Fevereiro De 2002


Afegã compara Aliança do Norte ao Taliban no Fórum Social

Por Frances Jones

PORTO ALEGRE (Reuters) - A afegã Marian Rawi, 27, se impacienta quando perguntada se a situação das mulheres no Afeganistão melhorou após a queda do Taliban e ascensão da Aliança do Norte, com a ajuda dos Estados Unidos. "Isso é uma idéia errada que a grande mídia está passando: os dois são fundamentalistas", disse Rawi à Reuters no domingo, pouco antes de falar ao público do Fórum Social Mundial.

Rawi, que não se deixar fotografar e adota um nome falso por pertencer ao grupo "semiclandestino" Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão (Rawa), foi convidada a Porto Alegre pela campanha que várias organizações de mulheres promovem contra o fundamentalismo.

Segundo ela, a Aliança do Norte, que agora está no poder, é exatamente o mesmo grupo que governava o país antes do Taliban. "Só mudaram o nome. A natureza é a mesma, a política deles é a mesma", afirmou Rawa, cuja aparência não corresponde a um possível estereótipo da mulher afegã, submissa e escondida por trás de uma burca.

O governo do Taliban proibia as mulheres de trabalhar e estudar e exigia que elas vestissem a burca (véu cobrindo o corpo inteiro, incluindo o rosto) em público, sob pena de serem espancadas -- algumas vezes até a morte. Com a Aliança do Norte no poder, as mulheres voltaram a ir para as escolas e podem trabalhar, mas muitas continuam usando a burca.

"Eles se mostram de forma diferente porque a atenção mundial no Afeganistão volta-se para os direitos das mulheres e eles estão cuidadosos. Mas a realidade é que nosso povo, especialmente nossas mulheres, nunca vão confiar neles, nunca vão se esquecer deles e nunca vão perdoá-los."

A história que Rawi conta de sua vida mistura dor e revolta. Quando tinha 9 anos, o pai foi morto pelos russos. O que restou da família -- a avó, a mãe, e suas quatro irmãs -- decidiu sair do país e acabou em um campo de refugiados no Paquistão, vivendo sob grandes dificuldades econômicas e sem acesso a educação.

Agora, ela trabalha em Peshawar, no Paquistão, na organização que reúne 2.000 mulheres e ajuda a financiar escolas e hospitais. Ela usa a burca apenas para ir ao Afeganistão, não como submissão, mas para manter a clandestinidade e ajudar as mulheres a lutar pelo "direito à igualdade entre homens e mulheres".

Fluente em inglês, casada e com um filho de 3 anos, Rawi já viajou para o Japão, Europa e alguns países árabes. Agora, vem ao Brasil contar suas histórias, buscar apoio à organização à qual pertence e explicar que nem tudo o que é dito sobre o Afeganistão é necessariamente correto. E faz questão de ressaltar um ponto: "Nem todos homens afegãos são fundamentalistas."







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