GloboNews.com, 22/11/2001


Rawa: 'Os crimes dos Talibãs são os mesmos da Aliança do Norte'


Enquanto as mulheres que viviam sob a opressão do regime Talibã no Afeganistão tinham acesso ao trabalho e às escolas negado, um grupo de afegãs exiladas no Paquistão lutava contra as imposições da milícia extremista, tentando chamar a atenção do mundo para o drama feminino em seu país de origem. Elas fazem parte da Rawa (Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão, da sigla em inglês), organização criada em 1977 em Cabul, com o objetivo de lutar pela retomada de direitos civis e pelo estabelecimento de um regime democrático no Afeganistão. A porta-voz da Rawa, Marina Matin, de 21 anos, falou de Peshawar, na fronteira do Afeganistão com o Paquistão, por telefone ao GloboNews.com, sobre as expectativas das mulheres em relação ao futuro do Afeganistão.

GloboNews.com: Estamos assistindo a um avanço das forças da Aliança do Norte e, aparentemente, à derrocada dos talibãs. Para a Rawa, qual a diferença entre o Talibã e a Aliança do Norte?

MARINA MATIN: Não há diferença alguma. Os mesmos crimes cometidos pelos talibãs são cometidos pela Aliança do Norte. Não acreditamos em governo baseado na força militar. Além disso, a Aliança do Norte não vai considerar no governo a maioria pashtun (da qual o Talibã faz parte) e estão perseguindo pessoas desta etnia. Está ocorrendo um verdadeiro massacre. Muitos afegãos aderiram ao Talibã simplesmente porque não havia emprego em suas cidades e eles precisavam alimentar suas famílias.

GloboNews.com: Na sua opinião, qual seria o papel das mulheres afegãs em um novo governo afegão pós-Talibã?

MARINA: É uma questão complexa, não sabemos se teremos direitos políticos no que estão chamando de novo governo afegão. Mas a Rawa lutará para inserir as mulheres afegãs na vida pública, lutando pela democracia, pelo direito ao trabalho e pela liberdade de expressão. Acredito que muito mais importante do que estar no poder será garantir às mulheres seus direitos civis.

GloboNews.com: A Rawa tem aspirações políticas?

MARINA: Não queremos participar de um governo da Aliança do Norte. Queremos participar de um governo que respeite os indivíduos e a democracia. Acreditamos que a volta do rei Shah (Mohamed Zahir Shah, exilado em Roma desde 1973), apoiada por uma força da ONU, seja o único caminho para pacificar o país.

GloboNews.com: As mulheres no Afeganistão começam a mostrar o rosto que se escondeu sob a burka durante cinco anos. Outras retornam ao trabalho e já são vistas na rádio, na TV e em escritórios da ONU. Você acredita que isso é um sinal de mudança real ou apenas temporária?

MARINA: Certamente temporária. Esta é uma boa oportunidade para a Aliança do Norte se promover para o mundo, que está voltado para o drama vivido no Afeganistão, especialmente o das mulheres. Temo que depois que as atenções sejam desviadas, a vida volte a ser como era antes. Em Mazar-e-Sharif (no norte do Afeganistão), depois que a Aliança do Norte tomou a cidade, uma série de atrocidades foi cometida contra homens e mulheres, exatamente como acontecia entre 1992 e 1996, quando a oposição controlava a cidade, até ser expulsa pelo Talibã. Não há a menor garantia de que as mulheres voltarão à escola ou terão outros direitos respeitados. A Aliança do Norte é formada por criminosos e assassinos e o que vemos neste momento é ilusão.


Fernando Moreira, do GloboNews.com





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