AlterNet.com, Outubro 4, 2001

As Mulheres Afegãs falam detrás do véu

Laura Flanders

"Agora que os Estados Unidos e o Taliban estão de lados opostos na guerra, você já provavelmente ouviu muito sobre como o Taliban trata as mulheres", disse Tamina, Tamina é um membro da RAWA (Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão) e sua mãe foi a fundadora do grupo em 1977. "Você provavelmente sabe das restrições das mulheres no Afeganistão, mas talvez você saiba menos sobre o que as mulheres querem".

Na última Terça-feira à noite Tamina falou a um grupo que se chamava "New Yorkers Say Not To War" (Nova iorquinos dizem não a guerra). Cerca de 75 pessoas encheram uma sala no Greenwich Village´s Gay e na Comunidade Lésbica, porque os americanos tem começado a ver muito tarde na mídia sobre a opressão das mulheres sob o Taliban. Nós temos finalmente, começado a ouvir notícias de que as mulheres sob o regime do Taliban são banidas de trabalhar, ir à escola, ou mesmo se maquiar. Agora que os líderes dos Estados Unidos estão levando o país numa guerra contra o Taliban, há muitas fotos de silêncio, muitas notícias de mulheres afegãs.

Como alguns grupos de pessoas políticas, os grupos organizados das mulheres afegãs diferem em seus pontos de vista. Alguns transmitem mais confiança que em outros como a então chamada Aliança no Norte, que é uma guerrilha distinta étcnicamente e que tem lutado contra o Taliban no norte do Afeganistão. Alguns acreditam que algo de bom poderia acontecer se os Estados Unidos interviesse e desarmasse o Taliban. Mas outros pensam que isso não levará a nada, mas haverá mais política extremista e mais guerras.

O Jornal "New York Times", publicou na Quarta-Feira um artigo de David Rhode sobre a vida das mulheres sob a Aliança do Norte, "As mulheres que vivem aqui no norte do Afeganistão não são reprimidas" diz Rhode, as mulheres usam da cabeça aos pés o burka, mas elas podem fazer compras no mercado e falar com vendedores masculinos, as garotas vão as escolas.

Perguntado na Terça-Feira se o povo do Afeganistão apoiaria os Estados Unidos numa coalizão com a Aliança do Norte para derrubar o Taliban, Tamina disse que o RAWA se opõe a mais guerras numa terra faminta e desesperada. "O primeiro passo seria parar com a ajuda financeira e militar para o Taliban e outras milícias", diz ela.

Recordando o período de 1992-1996, quando os grupos que agora compõem a Aliança do Norte vieram ao poder depois da derrubada do regime soviético instalado por Najibullah, Tamina notou que os "afegãos conhecem a Aliança do Norte", eles se lembram do tempo em que as mulheres eram raptadas em massa e as jovens garotas era obrigadas a se casarem com comandantes militares; milhares foram torturadas e mortas. "Nós não queremos esse período de volta".

A RAWA apoia uma missão de paz da ONU para desarmar todas as facções, todos os fundamentalistas, todos os terroristas, diz Tamina. "O povo do Afeganistão quer paz. segurança e a oportunidade para reconstruir o país sob um governo estabelecido por eleições legítimas onde as pessoas possam ler, entender suas opções e votar sem uma arma apontada para suas cabeças".

"Parece maravilhoso, é claro", disse Osmam, uma jovem mulher que usava jeans que estava sentada na segunda fileira. Osmam disse que ela e sua família deixaram o Afeganistão quando ela estava com 6 anos. "É irreal", nenhuma missão de paz da ONU tem sequer construído uma sociedade democrata" diz Osmam.

A Aliança do Norte pode não ser boa, mas eles não são tão ruins como o Taliban e se livrar do Taliban precisa ser o primeiro passo, ela argumenta. "A visão da RAWA é adorável, mas é irreal".

"Mas a ONU tem sido capaz de implementar uma transição para uma democracia tranquila", diz Donna Sullivan, uma professora de direito internacional da Universidade de Nova York, ela defendeu por muitos anos ativistas dos direitos humanos e das mulheres. "Na Namíbia, no Timor Leste..., meu medo é que estes processos sejam anulados pelos Estados Unidos, erigindo a Aliança do Norte como único mecanismo possível para o progresso".

Nós estamos enfrentando uma situação, disse Sullivan, onde "Vocês não tem sequer a falha da ONU em trazer as mulheres para o processo de paz, mas sim os Estados Unidos deixarem a ONU e as mulheres de fora".

Este é o gênero da discussão que faria um bom programa na TV, se a mídia dos Estados Unidos estivesse interessada em programas.A audiência tem sido alta, eu imagino, e a veracidade do debate de Greenwich Village na última noite foi alguma indicação.

A Jornalista Laura Flanders é uma hóspede da "Working Assets Radio" e autora de "Verdadeira Maioria, Mídia minoria: O custo das mulheres nas reportagens".





De: http://www.alternet.org/story.html?StoryID=11640



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